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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

De nada terei falta

De nada terei falta


ESTUDO DO SALMO 23
Por serem cânticos, dividimos os Salmos por frase principal ou refrão e estrofes.
Frase principal: (É assim chamada porque todas as outras frases giram em torno dela)
Refrão: (Frase que se repete mais de uma vez)
Estrofes: (É o conjunto de frases que tem um sentido com lógica)

Estrutura para elaboração da exegese
1º- Introdução: (Explicar a escolha do texto)
2º- Delimitação da perícope: (Em torno de; ou cortar em volta)
3º- Texto: (copiar todo o texto)
4º- Data, lugar e autoria: (Do objeto de estudo)
5º- Gênero literário: (Forma em que foi escrita)
6º- Forma e poesia: (Estrutura interna do objeto de estudo)
7º- Assuntos de interpretação:(interpretação do texto)


EXEGESE
Objeto de estudo Salmo 23
1º Introdução: (Explicar a escolha do texto)
2º Delimitação da perícope: (Situar o texto no local em que está)


3º- Texto: Sl-23
1. O Senhor é o meu pastor,
De nada terei falta.
2. Em verdes pastagens me faz repousar
 E me conduz a águas tranqüilas;
3. Restaura-me o vigor.
Guia-me nas veredas da justiça,
Por amor do seu nome.
4. Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte,
Não temerei perigo algum, pois estás comigo;
A tua vara e teu cajado me protegem.
5. Preparas um banquete para mim
À vista dos meus inimigos.
Tu me honras,
Ungindo a minha cabeça com óleo
E fazendo transbordar o meu cálice.
6. Sei que a bondade e a fidelidade
Acompanharão-me todos os dias da minha vida
E voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver

4º- Data, lugar e autoria:
A) Data: N o v.6 temos indícios de que este salmo foi escrito na época pré-exílica, pelo fato de que o templo ainda não ter sido destruído pelos babilônios. (fala de casa de javé, que é o santuário de Jerusalém).
B) Lugar: Pela citação do templo e por indícios do regime monárquico, provavelmente teve origem nas campinas da cidade de Jerusalém.
C) Autoria: Não sabemos ao certo, más com certeza não deve ter sido Davi, pois o v.6 cita o templo de Jerusalém com toda sua liturgia. De acordo com (2Sm-7:12-13) Davi é proibido por Javé de construir o templo, más da sua semente viria aquele que o construiria. Em (1Rs-6) vemos essa promessa se cumprindo com Salomão. Com base nestes relatos entendemos que o autor deste Salmo é alguém que conhecia o templo com sua liturgia e isso tira Davi como possível autor por ser uma época em que ele já estava morto.
5º- Gênero Literário: confiança individual.
6º- Forma e Poesia:
Cabeçalho Davídico
Frase principal: “O Senhor é o meu pastor” (v.1a)
1ª Estrofe: “O zelo do pastor” (v.1– 4a)
2ª Estrofe: “Celebração litúrgica” (v.4b – 6)
Aqui um passo importante é anotar as frases em comum, da 1ª e da 2ª estrofe, depois procurar uma frase que ligue as estrofes, que chamamos “coesão de sentido”.
Assuntos da 1ª estrofe: Deitar-me faz, me conduz, verdes pastos, águas tranqüilas.
Coesão de sentido: “Pois tu estás comigo”(v.4b). Liga, amarra as duas estrofes.
Assuntos da 2ª estrofe: Tua vara, teu cajado, prepara uma mesa, unges a minha cabeça.

7º- Assuntos de interpretação:
V.1a- Podemos traduzir a palavra pastor por rei, nesse caso ficaria assim: Javé é meu rei. O salmista está dizendo que seu rei não é da terra e que o rei terreno não o impõe medo. Ele está dizendo Javé é meu guia, aquele que é responsável de cuidar do salmista.
V.1bDe nada terei falta, e não nada me faltará. Pois mesmo que falte água, pasto e segurança, o salmista continua fiel ao seu rei.
V.2- O salmista pede para ser guiado a verdes pastos, como uma ovelha guiada pelo seu pastor, dando a entender que ele, o salmista está necessitado de alimento, bem como pedindo para ser guiado a águas tranqüilas, também dando a entender que está com sede, e ao dizer guia-me o salmista está dizendo ao seu líder, pastor, guia, rei ir à frente, sendo responsável de suprir suas necessidades.
V.3- Refrigera a minha a alma: O termo hebraico para alma é nepex, que se traduz por garganta, então ficaria mais bem traduzido assim: “refresca a minha garganta”, o salmista está faminto e sedento. Depois de saciada sua fome e sede ele diz guia-me pelas veredas da justiça e a palavra no original para veredas é trilhos, é como se o salmista estivesse dizendo agora que me supriste me guia pelos teus trilhos e me faz conhecer o teu amor através do teu nome.
V.4Aqui o “vale da sombra da morte” no original é “vale de trevas”, aqui o salmista dá a entender que a situação que ele passou de fome, sede e abandono, ele chama de vale de trevas. Más, mesmo estando nesse vale e se não fosse suprida suas necessidades básicas pelo seu rei terreno, não temeria mal algum, porque o seu Deus está com ele. Vara é um pedaço de pau curto que o pastor usava como arma de defesa para proteger o rebanho de predadores e também para disciplinar a ovelha, isto é, simboliza poder e autoridade. Cajado é uma vara longa e delgada, isto é, curvada em uma das extremidades e era usada para trazer a ovelha para perto do pastor se ela estivesse longe do alcance do seu braço, como por exemplo, dentro de um buraco.
V.5- Agora a cena é de uma celebração e parece que o salmista está no pátio do templo, pois seus inimigos estão presentes, más não podem tocá-lo e ao pedir para ser ungido com óleo ele pede a unção do espírito Santo, sua proteção, sua direção e culmina no ato da comemoração com sua taça transbordando.
V.6Depois de agradecer, celebrar, ele faz promessas de que vai ser bom, misericordioso, e não vai ser como fora aquele que o perseguiu e enquanto viver será fiel e promete habitar, que no original é tabernacular, que significa habitar + comunhão. Esta comunhão o salmista diz que a terá por longos dias, isto é, até o final da sua vida na casa de Deus, ou seja, no templo. (Por longos dias) pode indicar também que o salmista estava se protegendo contra os seus inimigos.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Imagens de Deus



Imagens de Deus

            Em minha experiência pastoral, deparei-me com uma triste constatação: nem sempre Deus é um elemento relevante, impulsionador e libertador da pessoa. Ao contrário, ao redor de sua imagem se acumulam medos, terrores, cargas morais, repressões ou reduções vitais. Não, Deus nem sempre é uma força que desata os nós, livra os embaraços, torna mais leve o peso da vida ou eleva as pessoas acima das misérias existenciais e cotidianas. Com frequencia, Deus é uma carga pesada, muito pesada. E muitos não se atrevem nem a jogar fora esse fardo.
            Este texto nasce do desejo de colaborar para libertar as pessoas desse “deus opressor”. Gostaria de ajudá-las a descobrirem que essas “imagens de Deus” não são o Deus de Jesus, mas sua negação.
            A imagem de Deus possui uma importância essencial na vida de fé do cristão. Considerando que ninguém jamais viu Deus (Jo-1:18), sempre utilizamos, inevitavelmente, suas imagens e representações que o tornam acessível à experiência humana. Essas imagens servem como mediação de sua presença viva em nós. Algumas foram forjadas ao longo dos séculos, mediante a leitura da Escritura, o ensino comum, a prática religiosa e a moral cristã. Essas imagens são a maneira que os cristãos chegaram a conhecer e a relacionar-se com Deus, sejam crianças ou adultos.
            Vamos descobrindo que a tarefa do cristão é permitir que Deus seja Deus. Afinal, as figuras opressoras não são uma criação humana. As amarras e os fardos procedem do coração humano, da educação recebida, das imagens fabricadas em um processo que se perde no tempo e que são transmitidos de pai para filho, de mestre para discípulo, de amigo para amigo, da forma como estão impregnados no meio ambiente cultural e religioso e como a abertura a uma transcendência, sempre misteriosa e fascinante, desliza idéias e representações de Deus, que são idolátricas.
            O problema da imagem de Deus é uma questão de idéias, sentimentos, representações e vivências. É um emaranhado nem sempre fácil de compreender.

(CONTINUA.......)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Deus é Amor.

          
Por
Mario Marcos
         
Deus, no cristianismo, é o ser divino que criou e governa o mundo. Ele é manifesto em três personalidades diferentes: Como Pai, como Filho e como Espírito. Ao Deus Trino crê-se em diferentes atributos entre eles o amor, o mais importante de todos (1 Jo 4,8) e manifesto assim por Paulo em (1 Co 13), a onipotência, a onisciência, a onipresença, a santidade, a Verdade (Jo 14:16), a justiça e a fidelidade.
            Quando falamos em Deus a primeira palavra que se vem à mente é poder, que é o que toda religião e seus deuses demonstram, mas no cristianismo Deus abriu mão desse poder se esvaziou,  se fez carne e habitou entre nós, Jesus se esvaziou demonstrando seu amor abrindo mão do poder para que a relação com o homem fosse possível. E quando Jesus foi tentado a usar tal poder disse, não.
Pai, Filho e Espírito Santo um se esconde atrás do outro, um testifica o outro, um glorifica o outro, cada um joga luz no outro isto se chama (kenósis) esvaziamento. Demonstramos isso através do amor, que é a renúncia de existir para si mesmo, mas de existir para o outro, amar é morrer para si mesmo.   
            O amor de Deus é o assunto de muito debate entre os cristãos. Questões sobre se Deus ama todo o mundo e deseja salvar todos sem exceção são respondidas de formas muito diferentes. Essas questões são importantes. Elas têm a ver com predestinação, o amor eterno de Deus por alguns, e com a morte de Cristo, a grande revelação do amor de Deus.
            Deus deu seu Filho não somente para que vivesse entre os homens e tomasse sobre si os pecados deles, e morresse em sacrifício por eles; o Filho foi dado por Deus a toda humanidade (Jo-3:16). O amor de Deus, acima de tudo, é o seu amor por si mesmo, sua glória, e sua santidade, (1 João 4:16) indica isso quando nos diz que Deus é amor. Em si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo, Jesus é a síntese de todo amor. Para ser um Deus de amor, ele não precisa de nós, nem é a sua glória como o Deus de amor incompleta sem nós.


            De eternidade a eternidade ele é amor, em e de si mesmo, na Trindade. Esta é a minha definição do Deus Cristão.

Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. Convalidado pela Faculdade Unida M. 10.1.509. Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Diante de Deus até a tristeza salta de alegria?





Diante de Deus até a tristeza salta de alegria? Será que este texto está correto ou é mais um erro cristão teológico?
Por
Mario Marcos[1]

            Por Ser um pregador itinerante e ter viajado bastante, já tive experiências um tanto quanto engraçadas, já ouvi pastores e líderes estuprarem os textos bíblicos e o pior, passando isso para os membros de suas igrejas "seitas" e esses erros e ignorância teológica se tornado verdades intocáveis. Lastimável.
            Ouço pregadores afirmarem: "Irmãos, se alegrem, porque a Bíblia diz que diante de Deus até a tristeza salta de alegria!". Alguns cantores também, querendo motivar o auditório, ou até mesmo para manipulação da massa e interesse próprio dizem: "Deus está aqui, e a Sua Palavra diz que, diante Dele, até a tristeza tem que saltar de alegria!". Mas, a bem da verdade, a Bíblia não afirma nada disso. A Pedido de uma irmã da minha congregação, que por sinal amo muito e tenho profundo respeito por sua família, fiz esta análise do suposto texto.   O suposto versículo não consta nas Páginas Sagradas. Por outro lado, vejo que muitos interpretam mal um versículo do livro de Jó.
            Veja o que diz Jó 41.22: "No seu pescoço reside a força; diante dele até a tristeza salta de prazer." (Versão Almeida Revista e Corrigida). Na NVI (Nova Versão Internacional) o mesmo texto foi traduzido assim "Tanta força reside em seu pescoço  que o terror vai adiante dele." Já a TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia) traduziu desta forma "No seu pescoço reside a sua força; diante dele salta o espanto". Outra pergunta que deve ser feita ao texto é a quem se refere o pronome prepositivo dele? Será que se refere a Deus? Bem. Antes de responder a esta pergunta, vou transcrever o mesmo versículo mais uma vez agora traduzido  de acordo com a (Versão Almeida Revista e Atualizada): "No seu pescoço reside a força; e diante dele salta o desespero." E agora? "Diante dele a tristeza salta de prazer (alegria)" ou "O terror vai adiante dele" ou "Diante dele salta o espanto" ou ainda "Diante dele salta o desespero"? Parece confuso, haja vista prazer e desespero serem palavras antagônicas, não é mesmo? E terror e espanto  até que dá pra associar a desespero. No entanto, não há qualquer confusão no texto bíblico. A confusão está nas traduções que temos disponíveis em nossas mãos. você que estudou comigo já me ouviu dizer que em português a bíblia é um lixo, kkkkkkkk, acho que agora ta entendendo o eu quis dizer.

            Voltando um pouquinho atrás, vamos saber quem é o dele, mencionado no versículo em análise. Já posso lhe adiantar que não tem nada que ver com Deus. Dizer que "diante de Deus até a tristeza salta de alegria", usando o tal versículo como apoio, é um erro teológico. "Então o texto bíblico se refere ao quê (ou a quem), irmão Marcos, já que não se refere a Deus?", talvez você me pergunte. Antes de lhe responder, sugiro que leia os versículos anteriores, e posteriores, ao 22 do capítulo 41 de Jó.

            Em Jó 40.6, Deus inicia um discurso (lembrando que se trata de uma descrição poética) com Jó, demonstrando o Seu Poder, e neste discurso, que prossegue até o final do capítulo 41, Deus menciona dois animais: o beemote (ou hipopótamo), um quadrúpede selvagem (Jó 40.15), e o leviatã, uma espécie de crocodilo, ou monstro aquático, que possuía escamas duras e pontudas (Jó 41.1,30,31). A quem então se refere o pronome dele? Claro está que se refere ao crocodilo, e não a Deus. Sendo assim, a expressão "diante dele salta o desespero" significa "diante do crocodilo salta o desespero". Na Versão Bíblia Viva Jó 41.22 está assim: "Com sua tremenda força concentrada em seu pescoço, o crocodilo espalha o medo por onde passa." que na minha opinião é a melhor tradução deste texto, o tradutor não traduziu as palavras do texto hebraico, e sim o seu sentido.
            Agora vou colocar o texto em Hebraico, vou transliterar e traduzir ao pé da letra:
תחתיו חדודי חרשׁ ירפד חרוץ עלי טיט (Jó-41:22)

tachtâyvchaddudhêy châres yirpadh châruts `alêy-thiyth (Jó-41:22)

Tanta força reside em seu pescoço que o terror vai adiante dele. (Jó41:22)
"Então quer dizer que está errado o versículo na Versão ARC (Almeida Revista e Corrigida) que diz que 'diante dele até a tristeza salta de prazer'?", alguém poderá indagar, eu respondo sim completamente equivocado.
            Se você tinha (ou tem) por costume citar Jó 41.22 para dizer que diante de Deus até a tristeza salta de alegria, a partir de hoje creio que você evitará dizer isso. Para você não ficar chateada comigo (risos), deixo um versículo que mostra que, na presença do Senhor, há alegrias de sobra: "Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente." (Sl 16.11).
            Espero ter ajudado a você compreender melhor este texto. A paz do Senhor fica com Deus e se precisar é só tocar a trombeta.





[1] Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. Convalidado pela Faculdade Unida M. 10.1.509. Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões.  

segunda-feira, 16 de junho de 2014

MULHERES NO LUXO E POBRES NO LIXO















Por

Mario Marcos


Introdução
            Utilizando o método histórico-crítico: tradução do texto, forma, delimitação, data, lugar e por fim assunto de conteúdo. Nesse trabalho, procuramos realizar um estudo exegético tendo por objeto de estudo o texto de Is 3,16-4,1. Por fim, oferecemos uma atualização do texto com uma mensagem para os dias atuais.

1.                  Texto[1]
16 O SENHOR disse:
Já que as filhas de Sião são orgulhosas,
e andam de pescoço esticado
distribuindo olhadelas,
caminhando a passos saltitantes
fazendo tilintar os guizos dos seus pés,
            17 o Senhor cobrirá de sarna o crânio
            das filhas de Sião,
            o SENHOR lhes descobrirá o sexo.
            18 Nesse dia, o Senhor as despojará dos seus adornos:
            guizos, sóis, luas,
19 pingentes, braceletes, véus
            20 turbantes, pulseiras,
correntinhas, talismãs, amuletos,
            21 anéis, argolas de nariz,
            22 vestidos de festa, cachecóis, xales, bolsas de mão,
23 espelhos, camisas de linho, faixas,
Mantilhas.
            24 Em vez de perfume, podridão,
de cinto, uma corda,
de tranças caprichadas, cabeça
raspada,
de roupa fina, tanga de saco,
uma marca infamante em vez de beleza.
25 Teus varões cairão sob a espada,
tua elite, no combate.
25 As tuas portas gemerão e se
lamentarão;
            despojada, estarás sentada no chão.
1 Nesse dia, sete mulheres se atracarão a um só homem, dizendo-lhe:
“Proveremos à nossa comida,
proveremos ao nosso vestir,
desde que possamos usar o teu nome:
tira a nossa desonra!”

1.                  Forma
            Descrição do orgulho das filhas de Sião..........................................v.16
            O juízo às filhas de Sião: Vergonha e despojamento das jóias..........v.17-24
            O juízo às filhas de Sião: Viuvez....................................................v.25,26 e 4,1.
           
2.                  Delimitação
Esta perícope é uma das subunidades dentro de um panfleto (2,1-4,1), provavelmente “um dos ‘livros’ que constituem a memória profética isaiana.”[2], onde temos a “palavra de Javé” (v.16) especificamente para, aqui chamadas, as filhas de Sião.

3.                  Data
Este texto situa-se em primeiro Isaias, portanto é pré-exilíco, após a queda do reino do norte e antes da invasão do reino do sul. Esse panfleto situa-se em torno de 740 a.C.[3]

4.                  Lugar
As subunidades do panfleto 2,1-4,1 são contra Judá e Israel. É provável que tenham sido produzidas para uma comunidade camponesa fora da cidade, pois denuncia o poder que se encontra nas áreas urbanas e, portanto, as vítimas da ingerência social aqui apresentada são os pobres e explorados do campo.

5.                  Assuntos de conteúdo
            No v.16 o texto é introduzido com a palavra de Javé, pois “O SENHOR disse”. É descrito por essa palavra o tom de orgulho a altivez com que algumas mulheres em Sião se comportavam, as expressões como “orgulhosas”, “pescoço esticado”, “distribuindo olhadelas”, “passos saltitantes” e “fazendo tilintar os guizos” falam de atitudes de desdém, de soberba, de insulto contra os pobres dado ao luxo com que essas mulheres viviam, certamente a custa de exploração.
            O v.17 traz o juízo da desonra a essas mulheres, pois teriam suas cabeças cobertas de sarna e estariam com suas partes íntimas a mostra. Ou seja, seriam despojadas de todo o seu luxo e orgulho para serem humilhadas. Certamente, ao que o contexto maior do panfleto nos indica, uma alusão a como os pobres já viviam para que essas mulheres andassem no luxo: despojados de sua honra, “nus” no sentido de estarem “despidos” daquilo que é essencial para a vida: a comida, a moradia, etc. São descritos em detalhe todas as jóias e adornos que essas mulheres possuíam (v.18-23). O v.24 traz o recurso da antítese, pois o juízo prometido era de que ao invés do perfume, do cinto, das tranças caprichadas, da roupa fina e da beleza, essas mulheres receberiam a podridão, uma simples corda, a cabeça raspada, a tanga de saco e uma marca infame. Ou seja, o despojamento dos bens materiais adquiridos certamente pela exploração que seus maridos fizeram contra os mais pobres, e a vergonha.
            A vergonha porque conforme nos indicam os v.25,26 e 4,1, seus maridos seriam mortos ao fio da espada e elas estariam viúvas. Como para uma mulher naquela época e lugar era uma vergonha a viuvez, essas mulheres certamente não teriam mais os luxuosos adornos e mendigariam a comida e a vestimenta. O texto ilustra como os pobres já viviam por causa da exploração: sem honra, sem comida e sem vestido. O autor procurou demonstrar que Javé com o seu juízo viraria esse jogo de cabeça para baixo.
           
                       
6.                  Atualização
            Esse texto é muito interessante para ilustrar os acontecimentos dentro da política brasileira ou mesmo da América Latina ou de todos os países que são explorados. Para que os países desenvolvidos sejam ricos fazendo “tilintar os seus guizos”, isto é, os seus milhões, a sua riqueza e o seu alto desenvolvimento, lugares como a África, e outras tantas terras pobres que foram e têm sido exploradas, ficam a mercê da pobreza. Seus recursos naturais são retirados para que o capitalismo produza bens que vão “enfeitar” as mulheres ricas, porque as viúvas pobres dos países explorados continuam usando “cordas” para amarrarem seus panos de saco, que são suas únicas roupas. Esse texto nos mostra que é preciso desestabilizar essa estrutura exploradora, virar o jogo de cabeça para baixo.

Bibliografia

________.Bíblia Tradução Ecumênica. São Paulo: Loyola, 1994.

SCHWANTES, Milton. Da vocação à provocação: Estudos exegéticos em Isaías 1-12. São Paulo:  Oikos, 2011.




[1] Tradução Ecumênica da Bíblia. Loyola, São Paulo: 1994.
[2] SCHWANTES, M. Da vocação à provocação. São Paulo: Oikos, 2011, p.91.
[3] SCHWANTES, M. Op. citada. p.17

terça-feira, 20 de maio de 2014

Declarando a Glória de Deus.




Estudo do Salmo 19

Por
Mário Marcos[1]

1. Tipo de Salmo
            O Salmo 19 mistura dois tipos, e isso levou muita gente a dividi-lo em dois. De fato, de 1 a 6 temos um hino de louvor, sem nenhuma introdução. Nele o céu e o firmamento, o dia e noite, em silêncio, cantam os louvores  de quem os criou. É, portanto, um hino de louvor ao Deus criador. Mas na segunda parte de 7 a 14 o estilo é sapiencial, apresentando uma reflexão sobre a lei de Javé.

2. Como está organizado
            O que dissemos até agora ajuda a ver como a Salmo 19 está organizado. Tem duas partes, de estilo diferentes: v.1-6 e v.7-14. Na primeira parte (1-6) temos um solene louvor ao Criador do universo: o céu, o firmamento, dia, noite e, sobretudo, o sol, proclamam sem palavras, os louvores de que os fez. O louvor silencioso é o mais importante, pois demonstra que as palavras não conseguem exprimir tudo o que se sente. O sol é comparado como o esposo que sai do quarto, como guerreiro e como atleta que percorre o caminho que lhe foi traçado.
            Na segunda parte (7-14) encontramos um poema sapiencial cujo tema central é a lei de Javé, também chamada de "testemunho" (7b), "preceitos" (8a), "mandamento" (8b), "temor" (9a), e "decisões". São seis palavras para dizer basicamente a mesma coisa. Ao lado de cada uma dessas palavras repete-se sempre o nome "Javé" (nesta segunda parte este nome aparece 7 vezes) e um adjetivo: "perfeita", "firme", "retos", "transparente", "puro", "verdadeiras". Depois de cada uma dessas afirmações apresenta-se um beneficiado: a alma descansa (7a), e o ignorante se instrui (7b), o coração se alegra (8a), os olhos se iluminam (8b). Tudo isso resumido com duas comparações: a lei é melhor que o ouro mais puro (ou seja, é o que há de mais precioso) e é mais doce que o mel (tido como o que há de mais doce). Em outras palavras o poema afirma que a lei é o que há de mais precioso e mais doce (10).
            Esta segunda parte pode ainda ser subdividida. Após ter apresentado o elogio da lei perfeita, o que há de mais precioso e doce, o salmista olha para si próprio, imperfeito, impuro, orgulhoso e pecador (11-13), terminando com um desejo: que as palavras do salmo, em forma de meditação, agradem a Javé, sua rocha e redentor (14).

3. Por que surgiu
            A primeira parte (1-6) do salmo apresenta uma tensão. De fato, quase todos os povos vizinhos a Israel consideravam o sol e os astros como deuses. Para o salmista, o céu e o firmamento são como uma grande tela na qual Deus deixou impressos sinais de seu amor criador. Em silêncio as criaturas falam da grandeza de quem os fez. O dia de hoje entrega ao dia de amanhã uma senha; esta noite entrega à próxima noite a mesma senha; serem anunciadores silenciosos do amor do Criador. Mesmo não usando palavras, a mensagem silenciosa deles chegará aos confins do mundo. Cada dia e cada noite trazem sempre o mesmo anuncio.
             O sol não é Deus, mas sua criatura. Naquele tempo pensava-se que ele girasse ao redor da terra. Por isso supunha-se que, de manhã, da tenda invisível que Deus fez para ele no Oriente, percorrendo como esposo, herói e atleta seu percurso, até entrar de novo em sua tenda no Ocidente. Esposo porque é sinônimo de fecundidade, herói porque ninguém escapa ao seu calor, atleta porque ninguém o pode deter.
            A segunda parte (7-14) também esconde uma tensão com as "nações". De fato, para Israel a grande e insuperável comunicação de Deus se chama "Lei". Foi com ela que deixou bem claro seu projeto e as condições para que Israel fosse seu aliado. O que Israel tem para oferecer as nações? Uma lei perfeita e justa, fruto da aliança com um Deus muito próximo: "De fato, que grande nação tem um Deus tão próximo como Javé nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? Que grande nação te estatutos e normas tão justas como toda esta e lei que lhes proponho hoje?" (Dt-4:7-8).
            Depois de falar da perfeição da lei, o salmista pensa na própria fragilidade (11-14). A lei é perfeita, ele é imperfeito. A lei é pura como ouro purificado, mas ele precisa ser purificado das faltas que cometeu sem perceber. problema maior: o orgulho ou a arrogância, que domina a pessoa, tornando-a responsável de grandes transgressões.

4. O rosto de Deus
            Duas imagens de Deus são muito fortes neste salmo: O Deus da Aliança (7-14), que entrega alei a seu povo, e o Deus Criador, reconhecido como tal por suas criaturas em todo o mundo (1-6).
            O Novo Testamento viu em Jesus o cumprimento perfeito da nova Aliança, aquele que faz ver de forma perfeita o pai (Jo-1:18 e 14:9). Sua lei é o amor (Jo-13:34). Jesus louva o Pai por ter revelado seu projeto aos pequeninos (Mt-11:25) e mandou a prender com os lírios do campo e as aves do céu o amor que o Pai tem por nós (Mt-6:25-30).

5. Aplicação pessoal
            A primeira parte do salmo nos ajuda a aprender a partir da criação, contemplar em silêncio as mensagens que vem das criaturas. Com isso aprendo que devo anunciar meu Deus e seu amor mesmo em silêncio, ou seja, minha vida deve ser um testemunho sem que seja necessário palavras para isso. É um salmo ecológico e cósmico. A segunda parte nos faz entrar em comunhão com projeto de Deus presente na Bíblia, com o mandamento do amor. Faz pensar em nossa fragilidade. É oportuno para quando queremos livrar-nos da arrogância e do orgulho.
           







[1] Mario Marcos Andrade da Silva, Bacharel em Teologia pelo (ICEC), Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. M. 10.1.509.Convalidado pela Faculdade Unida, Além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo IDE Missões.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Desabafo de um Profeta.



DEUS X RELIGIÃO
Por
Mario Marcos


            Desde a infância luto incessantemente com minhas dúvidas a respeito da existência ou não de Deus.  E nesta busca para responder a essa pergunta, encontrei respostas muito pessoais e cada um deve tirar a sua própria conclusão, mas neste estudo nada cientifico, outra questão me incomodou. O fato de existirem tantas religiões e diferentes credos, até mesmo divisões dentro delas, e o mundo continuar a ser tão carente de paz e amor, me fez questionar a necessidade de termos essas religiões. A conclusão que cheguei é que em verdade, elas são o câncer da sociedade, alimentando rivalidades, guerras, desunião, instigando os fiéis a lutar por mais afiliações a esta ou aquela religião; sempre com o mote da evangelização.
            Desde muito pequeno, fui e sou muito questionador e critico, e simplesmente não me satisfaz apenas ouvir e aceitar o que dizem, sempre há um por que a ser respondido, sempre haverá uma pergunta a ser feita. Assim me pergunto por que o Padre ou Pastor ou Rabino, ou qualquer outro líder espiritual pode me dizer o que fazer da minha vida, será que Deus tem ouvidos apenas para esses iluminados?  Têm-se um só Deus, porque a mensagem é diferente para Cristãos, Judeus e Muçulmanos?  A conclusão parece óbvia.  As mensagens que eles transmitem são mensagens deles e não de Deus, daí tanta divergência. Descobri que devemos buscar nossas próprias respostas, perguntar diretamente a Deus que reside em seu coração e é único, onipresente, onisciente em você irmão.  Não há necessidade de rituais, de regras, de orações decoradas, apenas diga com a voz do coração, e a resposta será imediata, personalizada e única. Não me chame de herege, mas perdi a fé.
            Perdi a fé em um Deus que só realiza “o milagre” se eu tiver fé, perdi a fé em um Deus que só ouve “os escolhidos”, perdi a fé em um Deus que a qualquer deslize meu quer me fulminar, perdi a fé em um Deus que faz acepção de pessoas, ou não pregamos: “Então vereis outra vez a diferença entre o que serve a Deus e o que não serve”? Esta diferença está no meu agir não no tanto que serei beneficiado. Desculpem-me pelo desabafo, mas ganhei uma nova fé, fé em um Deus que celebra a vida, que me ama e que independe do que eu faça para me amar.
            Em minha experiência cristã, deparei-me com uma triste constatação:nem sempre Deus é um elemento relevante, impulsionador e libertador da pessoa. Ao contrário, ao redor de sua imagem se acumulam medos, terrores e cargas morais, repressões ou reduções vitais. Não, Deus nem sempre é uma força que desato os nós, livra os embaraços, torna mais leve o peso da vida ou eleva as pessoas acima das misérias existenciais e cotidianas. Com freqüência, Deus é uma carga pesada, muito pesada. E muitos não se atrevem nem a jogar fora esse fardo.
            Quero poder colaborar para libertar as pessoas desse "Deus" opressor. Gostaria de ajudá-las a descobrirem que essas "imagens de Deus"  não são o Deus de Jesus, mas sua negação. É preciso mudar nossas imagens de Deus. Precisamos distinguir continuamente entre o que é nossa idéia e representação de Deus e o que é Deus. Freqüentemente não o fazemos nem somos ajudados a fazê-lo na igreja. Nós que falamos de Deus - e alguma vez quase todos o fazemos -, com freqüência falamos com pouco respeito ou com distância entre o que são nossas palavras e imagens de Deus e o que é o mistério de Deus. Ninguém nunca viu Deus..(Jo-1:18), mas nos comportamos como se tivéssemos tomado café com ele.
            Deveríamos recordar continuamente o aviso de Karl Barth, um dos maiores teólogos do século XX, nos deixava a respeito de seu discurso sobre Deus: não esqueçais que isso é dito por um homem de Deus. Sempre falamos, homens e mulheres, seres humanos, em linguagem humana, com os condicionamentos humanos. Com freqüência esquecemos isso.
            O pior é que algumas das afirmações e representações feitas com certa leviandade sobre Deus, dentro da igreja, se tornam verdades intocáveis. Não guardam a devida distância em relação ao mistério. Não sabem nem avisam que são homens, por mais importantes que sejam, santos e inteligentes que sejam, que falam do mistério de Deus. Na melhor das hipóteses, deveríamos colocar um aviso generalizado em todas as igrejas evangélicas, paróquias, salas de conferência, catequeses e seminários e intelectuais do mundo: "Lembrem: aqui quem fala de Deus são seres humanos, homens e mulheres". Certamente ajudaríamos, um pouco pelo menos, não confundir Deus com nosso discurso e representações sobre ele.